Por Pedro Acosta*
Momento chave na cultura brasileira, o Carnaval traz consigo duas idéias: o espírito de celebração grupal presente em blocos, cordões e afins; a idéia de estagnação na música que insiste em ser igual ano após ano. No Grito Rock, que acontece justamente durante o Carnaval, a primeira idéia é usada para combater a segunda. Pois é dentro de um sistema de trabalho em rede que 50 cidades espalhadas pela América do Sul devem fazer um festival integrado de música nova: o Grito Rock 2008.
O Grito começou em Cuiabá, como opção para quem, em 2002, não queria de novo ser "folião" de festas tradicionais de Carnaval. Cinco anos depois, transformou-
Em Cuiabá, o Festival chega a sua sexta edição
Software livre: em cada cidade, um Grito Rock próprio
Tudo acontece dentro do fundamento do software livre . O modelo de festival adotado primeiramente em Cuiabá fica disponível para quem quiser trabalhar sobre ele, adaptando-o às necessidades locais. O que importa é estar conectado em rede, os produtores trocando tecnologias e experiências, criando uma rede de trabalho, fortalecendo uma cadeia produtiva da cultura nacional. Assim, por exemplo, durante o Grito 2008 (de 19/1 a 24/2), pelo menos 200 bandas devem viajar pelos locais que realizam o festival, apresentando-
Em 2007, uma marco histórico: o GR passou a ser realizado em vinte cidades
Mas tão importante quanto a criação dessa rede nacional (e, agora, transnacional)
Em Cuiabá, o Grito Rock está incluído na programação oficial da prefeitura para o Carnaval. No Rio de Janeiro, haverá debate, exposição de quadrinhos e projeções de filmes e vídeos. O diferencial de Curitiba é ter atrações internacionais para o festival de psychobilly (gênero em que o punk encontra o rockabilly), vindas da Inglaterra, dos Estados Unidos e do Chile.
O público atento ao show dos Superguidis no Grito Rock Belém 2007
Trabalho em rede gera novas rotas produtivas
A integração com outros países da América do Sul é, aliás, ponto fundamental do Grito deste ano. Afinal, por que não há maior intercâmbio cultural entre países geograficamente tão próximos? Certamente, a música independente não é o primeiro segmento a fazer essa pergunta ou tentar aumentar tal intercâmbio, mas talvez seja o que tem melhores de condições de realmente fazê-lo. Afinal, na música, a barreira da língua tem menos valor e o Grito Rock já provou em 2007 sua habilidade de criar rotas produtivas.
Que o diga a banda cuiabana Chilli Mostarda (MT), que, pela segunda vez, aproveita o Grito Rock para uma pequena excursão. Em 2008, serão quatro shows em quatro dias, partindo de Cuiabá e chegando a Belo Horizonte. Essas rotas produtivas devem florescer especialmente no Sudeste. Na região, o Grito acontece em 17 localidades, num território relativamente pequeno (comparando-
Martim Cererê lotado no Grito Rock Goiânia 2007
Mas há formas de vencer a distância. Pode ser fisicamente: a banda paulistana Somos deve se apresentar em Rio Branco , no Acre; os paraibanos do Cabruera estão escalados para Porto Alegre. Pode ser midiaticamente: a Rádio Venenosa FM, veículo oficial do Grito carioca, também é transmitida em outros dois estados.
No total, será mais de um mês de música, as prévias cuiabanas tendo começado em 19 de janeiro e o "enterro dos ossos" em Fortaleza estando agendado para 24 de fevereiro. Mas a idéia é que as redes criadas para o Grito permaneçam ativas por todo o ano, redesenhando o mapa da cultura brasileira.
* Pedro Acosta é editor do blog arquivo acosta e colaborador do circuito fora do eixo. http://arquivoacost
SERVIÇO
O QUE: Grito Rock será promovido em mais de 43 cidades
QUANDO: Entre os dias 26 de janeiro e 26 de fevereiro
MAIS INFORMAÇÕES: www.gritorock.
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