domingo, 27 de janeiro de 2008

Festival em rede movimenta a América do Sul no carnaval

Grito Rock 2008 deve acontecer entre 19/1 e 24/2. Mais de 50 cidades devem participar, incluindo Buenos Aires e Montevidéu, pela primeira vez. Serão mais de 500 bandas em festival que tem como foco o trabalho em rede

Por Pedro Acosta*

Momento chave na cultura brasileira, o Carnaval traz consigo duas idéias: o espírito de celebração grupal presente em blocos, cordões e afins; a idéia de estagnação na música que insiste em ser igual ano após ano. No Grito Rock, que acontece justamente durante o Carnaval, a primeira idéia é usada para combater a segunda. Pois é dentro de um sistema de trabalho em rede que 50 cidades espalhadas pela América do Sul devem fazer um festival integrado de música nova: o Grito Rock 2008.

O Grito começou em Cuiabá, como opção para quem, em 2002, não queria de novo ser "folião" de festas tradicionais de Carnaval. Cinco anos depois, transformou-se em festival integrado, unindo produtores independentes de todo o país. Em 2008, até as fronteiras nacionais serão ultrapassadas: o Grito Rock será realizado também, e pela primeira vez, em Buenos Aires (Argentina), Montevidéu (Uruguai) e Santa Cruz De La Sierra (Bolívia). Estão previstos mais de 500 shows.


Em Cuiabá, o Festival chega a sua sexta edição

Software livre: em cada cidade, um Grito Rock próprio


Tudo acontece dentro do fundamento do software livre . O modelo de festival adotado primeiramente em Cuiabá fica disponível para quem quiser trabalhar sobre ele, adaptando-o às necessidades locais. O que importa é estar conectado em rede, os produtores trocando tecnologias e experiências, criando uma rede de trabalho, fortalecendo uma cadeia produtiva da cultura nacional. Assim, por exemplo, durante o Grito 2008 (de 19/1 a 24/2), pelo menos 200 bandas devem viajar pelos locais que realizam o festival, apresentando-se fora de suas cidades-natais. E a programação do Grito 2008 conta com a adesão de festivais que já aconteciam anteriormente, como o Psycho Carnival (Curitiba) e o Palco do Rock (Salvador), que chega a sua 14ª edição.


Em 2007, uma marco histórico: o GR passou a ser realizado em vinte cidades

Mas tão importante quanto a criação dessa rede nacional (e, agora, transnacional), é garantir que o Grito fomente as cenas locais, envolvendo artistas, produtores e comunicadores. Em Brasília, o blog criado para o evento tem abordagem abrangente, falando sobre vários aspectos da cena local. Já em Fortaleza, três produtoras diferentes serão responsáveis pelo Grito Rock de lá, cada uma tendo ao menos uma noite própria, com características particulares.

Em Cuiabá, o Grito Rock está incluído na programação oficial da prefeitura para o Carnaval. No Rio de Janeiro, haverá debate, exposição de quadrinhos e projeções de filmes e vídeos. O diferencial de Curitiba é ter atrações internacionais para o festival de psychobilly (gênero em que o punk encontra o rockabilly), vindas da Inglaterra, dos Estados Unidos e do Chile.

O público atento ao show dos Superguidis no Grito Rock Belém 2007

Trabalho em rede gera novas rotas produtivas

A integração com outros países da América do Sul é, aliás, ponto fundamental do Grito deste ano. Afinal, por que não há maior intercâmbio cultural entre países geograficamente tão próximos? Certamente, a música independente não é o primeiro segmento a fazer essa pergunta ou tentar aumentar tal intercâmbio, mas talvez seja o que tem melhores de condições de realmente fazê-lo. Afinal, na música, a barreira da língua tem menos valor e o Grito Rock já provou em 2007 sua habilidade de criar rotas produtivas.

Que o diga a banda cuiabana Chilli Mostarda (MT), que, pela segunda vez, aproveita o Grito Rock para uma pequena excursão. Em 2008, serão quatro shows em quatro dias, partindo de Cuiabá e chegando a Belo Horizonte. Essas rotas produtivas devem florescer especialmente no Sudeste. Na região, o Grito acontece em 17 localidades, num território relativamente pequeno (comparando-o à região Norte, por exemplo). Cidades como São Caetano e Sorocaba ainda se beneficiam da proximidade de grandes centros culturais já estabelecidos, como São Paulo.

Martim Cererê lotado no Grito Rock Goiânia 2007

Mas há formas de vencer a distância. Pode ser fisicamente: a banda paulistana Somos deve se apresentar em Rio Branco , no Acre; os paraibanos do Cabruera estão escalados para Porto Alegre. Pode ser midiaticamente: a Rádio Venenosa FM, veículo oficial do Grito carioca, também é transmitida em outros dois estados.

No total, será mais de um mês de música, as prévias cuiabanas tendo começado em 19 de janeiro e o "enterro dos ossos" em Fortaleza estando agendado para 24 de fevereiro. Mas a idéia é que as redes criadas para o Grito permaneçam ativas por todo o ano, redesenhando o mapa da cultura brasileira.


* Pedro Acosta é editor do blog arquivo acosta e colaborador do circuito fora do eixo. http://arquivoacosta.blogspot.com


SERVIÇO

O QUE: Grito Rock será promovido em mais de 43 cidades

QUANDO: Entre os dias 26 de janeiro e 26 de fevereiro

MAIS INFORMAÇÕES: www.gritorock.com.br

Nenhum comentário: