CUFA CUIABÁ - Como se iniciou a crew?
UNIVERSO PARALELO - Em 2003, com o Smit e o Credo. Hoje temos outros integrantes, o Eve14, o Pack, o Shark, a Tati, o Caps, o Sow, o Endi e o Hope, sendo que todos temos, o compromisso de estudar Estética e História da Arte, Filosofia da Arte e Arte-Educação.
C.C – Por que o nome Universo Paralelo?
UP – Numa visão de micro-cosmo, representa a busca por um modo de vida alternativo, comparado à vivência caótica do mundo de hoje, e sendo também pelo modo como somos vistos e classificados por esta mesma sociedade: pixadores, maloqueiros, loucos, seja qual for o título ou o rótulo, mas diferentes dos padrões deles. Uma outra realidade, uma outra vivência, uma outra cultura, paralela a essa que seria a normal. Mas sobre tudo, numa visão macro, fazemos referência a esse mesmo mundo que vivemos hoje, com a consciência de que estamos temporariamente num mundo materialmente denso e que somos espíritos em contínua caminhada à evolução. Sendo nosso verdadeiro lar outro plano físico.
C.C - O trabalho de vocês é linkado à alguma religião?
UP - Não. Na realidade temos um grupo de estudo sobre a espiritualidade, mas é bem eclético quanto à religião.
C.C - Como se dá essa relação entre arte e religião?
UP – Como foi dito não é religioso é espiritual, e Deus é universal, está além de qualquer instituição. O nosso grupo de estudo provém do coletivo “Família Bhanganjah”, que desenvolve atividades na área social através da produção cultural. Hoje voltada principalmente à música reggae e ao graffiti, porém com atuação em outras áreas como a causa animal (vegetarianismo), ambiental, auto-sustentabilidade e formação de eco-vilas, mas tudo alicerçado nos ensinos do mestre Jesus.
C.C – Qual a relação entre a Família Bhanganjah e o Universo Paralelo?
UP – Hoje a crew é uma das frentes da Bhanganjah, somos o núcleo de artes visuais. Chegamos a esse consenso devido à sintonia de pensamentos e interesses, casando assim nossos anseios. Bhanganjah está além do fazer artístico e fortalecemos esse movimento com o nosso trabalho, que não se restringe somente à pintura.
C.C - Por que vocês pintam? Qual é o motivo que faz com que vocês saiam de suas casas para pintar em um muro qualquer, seja onde for?
UP - Temos cada um, um ponto específico, mas no geral é pela alegria e satisfação do fazer criativo, interagindo em espaços públicos num caráter de democratizar e espalhar arte, interferir de forma positiva no cotidiano e no ser das pessoas, trazendo reflexões e impressões, a experiência estética que só a arte pode trazer. Tudo isso inspirado no mundo que vemos e vivemos, retratado sob a nossa ótica.
C.C – Pode-se dizer então que o objetivo seja levar arte, cultura e informação à população?
UP - Sendo hoje a crew, uma das frentes da Família Bhanganjah, temos como objetivo não só o fazer artístico, que seria essa sua colocação, mas Buscamos ter o graffiti como real movimento artístico, inserido num contexto cultural de uma nova época, que traz em si, uma linha de pensamento, uma identidade e uma nova ótica de se ver o mundo. Inserir o graffiti nas artes plásticas e na história da arte de forma legítima, como movimento histórico, artístico e cultural, fazendo um marco temporal, através de nossas ações como sujeitos organizados, trazendo ao mundo o nosso modo de ver o mundo, e a vida espiritual.
C.C – E quanto à cena atual do graffiti, como vocês a vêem?
UP – Temos hoje vários artistas que trabalham nesse mesmo objetivo que acabamos de citar, mas no geral o grafiteiro está muito mais ligado á sentimentos como o orgulho e o ego, buscando fama, ou como chamamos, ibope. Muitos estão focados apenas na sua auto-promoção e esquecem, ou não sabem que há muito mais por trás do reconhecimento e da pintura em si. Vemos que a maioria não estuda, e não está preocupada em estudar arte. Coisas básicas como fundamentos da linguagem visual ou teoria das cores são conceitos abstratos pra maioria. A falta da metafísica, e do embasamento teórico, retardam esse processo de legitimidade de um movimento unificado. Isso não quer dizer que não valorizamos artistas auto-didatas. Até porque, a maioria dos grafiteiros vieram da periferia, não tiveram uma boa educação e nem uma boa qualidade de vida então o que vemos na cena atual acaba sendo o reflexo disso.
C.C - Alguns de vocês estiveram no festival consciência hiphop-2006 realizado pela Cufa. Como foi a experiência em Cuiabá? E quais as diferenças comparado a São Paulo?
CAPS: O ambiente mais receptivo tanto por pessoas do hip hop ou não, acho que foi a característica mais marcante, e o reconhecimento como artista também. Em São Paulo, mesmo os grandes eventos, não tem a mesma recepção e qualidade. Em Cuiabá o graffiteiro é valorizado como artista, aqui em São Paulo é como se prestasse um favor.
CRÉDO: A receptividade. Fomos bem tratados. Levamos mais informação a algo recente na cidade, colaboramos com o desenvolvimento do graffiti lá. Uma experiência totalmente diferente pra mim. Aqui em sampa os caras da antiga estão sempre à frente das parada, e lá em Cuiabá foi assim com a gente.
EVE14: Os caras da “old school” tem uma maior visibilidade e mais contatos do que os da “new school” por eles terem iniciado o movimento aqui. Mas estamos buscando e alcançando, prova disso foi a ida pra Cuiabá a convite da Cufa, que nos recebeu muito bem. Identifiquei-me com o ambiente calmo da cidade, diferente de São Paulo sempre corrida e tumultuada, vou tentar agregar isso nos meus trabalhos aqui, e manter o mesmo ritmo de lá.
C.C – Vocês falaram do graffiti, reggae e espiritualidade.Falem um pouco como vocês vêem a relação graffiti e hip hop, e como começaram a pintar.
CRÉDO: O graffiti surgiu junto aos outros elementos do hip hop, e hoje em dia ele toma um outro rumo, mas sempre será dessa cultura. Muitos grafiteiros, principalmente da “old school”, passaram pelos outros elementos antes de começarem a pintar. Meu contato com o graffiti se deu enquanto militava no movimento punk, fui conhecer o hip hop só depois. Vejo que os 4 elementos estão ligados entre si, mas também são independentes.
CAPS: Concordo com o Cadu (Credo). Desde moleque escutava rap, comprava camiseta com desenho dos 4 elementos. E começou por ai o conhecimento sobre graffiti, cheguei até fazer oficina de DJ antes de pintar.
EVE14: Eu iniciei no graffiti sem saber o que era hip hop. Passei a curtir rap e descobri que eram uma coisa só, um movimento.
C.C – Uma conclusão e/ou um salve pra alguém?
U.P – Primeiramente o agradecimento a Deus, por nos permitir essa experiência. Um salve a todos os irmãos da Cufa Cuiabá: Linha, Karina, Fininho, Taba, P.Brother, Snarf, e todos outros também, aos irmãos da Família Bhanganjah e à toda rapa do graffiti que cola com a gente e soma na corrida.
sábado, 10 de março de 2007
Entrevista da UNIVERSO PARALELO para a CUFA-CUIABÁ
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